domingo, 18 de dezembro de 2011

De repente 30

De repente, 30 motivos para celebrar.
A casa cheia de amigos.
A saúde perfeita.
Meus pais ao meu lado.
Um trabalho honesto.
O coração cheio de amor.
As árvores de flores amarelas.
A alma repleta de poesia.
Tardes de por do sol.
Os olhares ternos entre estranhos.
Noites de lua cheia.
Conversas profundas na manicure.
As borboletas.
A brisa morna nas noites quentes.
A bondade latente no mundo.
O companheirismo.
A mão de Deus no meu caminho.
O horário de verão.
Sucrilhos com leite gelado.
O reencontro com amigos tão amados.
A saudade recompensada.
A solidão que não fere.
O olhar da minha cachorrinha.
Doce de leite.
Sorrisos.
Desencontros.
O cheiro da chuva no asfalto.
Dividir um ensinamento.
Aprender com um exemplo.
O que ainda está por vir.


sábado, 3 de dezembro de 2011

Desonra

Passeando uma tarde na livraria, folheei esse livro, que estava entre os mais indicados. Desonra. Gostei do nome, apreciei a capa e por admirar a editora, comprei. Pela sinopse, acreditei que a história seria de cunho político, por se passar na África. Estava enganada. O livro é sobre nós e sobre nossas mais podres verdades.
O livro mexeu tanto comigo que não consegui ler de uma só vez. Precisei seguir aos poucos, digerindo os capítulos, me encarando, demorando a dormir, refletindo lenta e profundamente. De uma escrita bastante peculiar, objetiva, seca, dura, levei um tempo para me acostumar ao estilo do autor para em seguida me encantar e devorar suas palavras.
A história aborda várias e diferentes vertentes da desonra.  O personagem principal é um professor universitário de poesia, que se envolve com uma de suas alunas. Esse envolvimento culmina em seu afastamento do ramo acadêmico, com um processo por assédio. Ele se refugia na casa de sua única filha, que mora em uma propriedade rural na cidade do Cabo. Homossexual, Rose vive do que planta e do comércio que realiza com o auxílio de vizinhos, em uma feira semanal da região.
Para passar o tempo, começa a trabalhar voluntariamente em um hospital veterinário da região, que, não apresenta condições de higiene, de sobrevivência, de dignidade, abordando, de uma forma bastante viva e real,  a desonra no abandono e morte desses animais.
Em certo ponto da história, a casa onde mora com a filha é invadida por cinco homens que robam tudo o que possuem e estupram sua filha. Desse estupro surge uma gravidez. E é nesse momento que o livro se torna tão sensacional. O pai insinua a filha que interrompa a gravidez por considerar uma desonra carregar aquele bebê, sugere que  venda aquela propriedade e recomece sua vida em outro lugar. A filha, por sua vez, considera uma desonra abandonar seu pedaço de terra, e mais ainda, transferir para uma criança inocente, sua dor e sua revolta.
O livro é belíssimo, de uma densidade bastante acentuada para os mais sensíveis, como eu. Sugere uma contestação  muita severa da relatividade dos nossos valores, dos nossos pré-julgamentos sobre os outros e, principalmente, sobre nós mesmos. É um tapa na cara, ardido e insolente, que faz a gente olhar toda nossa vida e nos vira do avesso. Quando terminei de ler, fechei o livro e chorei, nem sei por quanto tempo. Me senti nua, despida de todos os valores que achei que fossem tão sólidos em mim para fazer um questionamento tão denso sobre a realidade, sobre nossas mazelas e feridas. Sobre o nosso interior.
Recomendo....fantástico.
Desonra, J.M. Coetzee. - Companhia das Letras.