Tive o prazer de assistir a Pterodatilos. Marco Nanini, Mariana Lima e Álamo Facó, em brilhantes atuações. Adaptação do texto de Nicky Silver, o drama tem como mote os conflitos familiares originados pela volta de uns dos filhos do casal que está doente enquanto preparam a festa de casamento da filha caçula. Nanini é Artur, pai de dois filhos, presidente de uma instituição financeira que vivencia sua decadência após perder o emprego. É também Ema, filha caçula, carente e de uma sensibilidade profunda. Longe das caracterizações óbvias, que se valorizam mais pela forma do que pelo conteúdo, Nanini atua de coturnos, saia e uma tiara na cabeça. Suficientes para trazer ao palco uma personagem apaixonante, solitária e completa em sua angústia.
Com diálogos rápidos, de um texto denso porém sensível, os primeiros minutos de peça chegam a dar vertigem. Os atores levam a peça inteira nessa velocidade, um ritmo alucinante, como se os membros daquela família (e todos nós) precisássemos falar o tempo todo, para não ter que dizer nada uns aos outros.
Enquanto a peça se desenrola, um dos personagens desconstrói o cenário vagarosamente. Forma buracos no tablado. Espaços vazios nas cenas. Buracos nas relações dos personagens. Buracos nos diálogos inexistentes, na falta de afeto. Os atores abandonam os clichês e sangram os personagens no palco levando o espectador a enxergar, no escuro do teatro, suas próprias feridas.
Fui pra casa com uma sensação desconfortável. Aquela velha sensação que faz a gente pensar, rever, ponderar. Na família, nos amigos, na falta de tempo, na desatenção. No apego, no abandono. Na vida que pulsa em nós. Na nudez das relações que nos permeiam e nos transformam.