segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O beijo e outras histórias

Em determinada fase do livro “As Travessuras da Menina Má”, Ricardito, o personagem principal, traduz os contos de Tchekhov de modo apaixonado. Resolvi naquele momento que minha próxima leitura seria essa. Adoro literatura russa. É pesada, densa, profunda. Tenho um amigo que diz que para ler literatura russa, nossa mente deve estar previamente preparada. Não pude discordar. Literatura russa não é propriamente uma leitura de férias, daquelas que se lê para distrair ou passar o tempo. É um pequeno empurrão para aqueles que gostam de mergulhar em si mesmos, em seus devaneios e conflitos mais secretos.
Diferentemente de Dostoiévski, Tchekhov aborda situações mais cotidianas, textos mais curtos, de linguagem apurada e suave. Seus personagens são cidadãos comuns, feios, doentes, solitários. Mas nunca vazios. Em “Uma crise”, três amigos saem numa noite, em busca de diversão e prostitutas. Vassíliev, estudante de direito, é acometido por um turbilhão de sentimentos antagônicos ao desejo que sentem os demais. Compaixão, repulsa, zelo, raiva. Em meio a doses de vodca que
bebe, na tentativa de igualar-se a seus amigos, que vivenciam os momentos com tamanha intensidade, esse homem de alma atormentada não consegue se desligar da crise de consciência que lhe corrói o espírito. Passa a noite e os dias que se seguem remoendo os mesmos pensamentos e conflitos, incessantemente. Tchekhov faz uso do distúrbio da mente  para justificar a sensibilidade exarcebada, a preocupação com o outro, os questionamentos sobre os valores morais e éticos. No que ele mesmo caracteriza como talento humano. “ Um intuição sutil e magnífica para a dor em geral. A dor alheia enervava-o, deixava-o exaltado em estado de êxtase.”  Na dor desse personagem sou cativada para sempre por Tchekhov, por penetrar com tanta sutileza nos dramas humanos.
“O Beijo” aborda a solidão de um jovem soldado que é beijado por engano em uma festa. Essa fantasia que o move, conotando em seus pensamentos a pureza de uma companhia, de um amor quem sabe, de emoção em uma vida fria nos comove.
Em todos os contos podemos sentir a sutileza de sua graça, de sua escrita apaixonante, provocadora, que instiga nossos melhores pensamentos e também  nossos sentimentos mais perversos e sombrios. É, sem dúvida, um instrumento de autoconhecimento. Maravilhoso.
Recomendo....O Beijo e outras histórias. A.P. Tchekhov







segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os bons são maioria

No início do mês de dezembro, fiquei muito impressionada com uma notícia de que um filhotinho de cachorro havia sido enterrado vivo, em Novo Horizonte. Por conta da crueldade que sofreu, o bichinho ficou cego de um olho e adquiriu uma infecção grave na pele.
Essa noticia me sensibilizou tanto, que pesquisei na internet o nome do abrigo em que o filhotinho estava sendo tratado e, em meados de dezembro, liguei lá para saber do pequeno. Um rapaz muito simpático me atendeu, e disse que Titã se recuperava bem, já voltava a comer e que a veterinária o levava toda noite para sua casa, para acompanhá-lo de perto. Me informou sobre uma fila de 30 pessoas, aguardando para adoção do filhotinho.
É clichê dizer que o mal é sempre destaque na mídia, que a bondade é tímida e que algumas pessoas são capazes de realizar atrocidades por aí. Mas, acredito que o bem sempre merece comentário, sempre é digno de uma nota, de um pequeno destaque, ainda que num simples blog como o meu.
Hoje, fiquei sabendo que Titã foi adotado por sua cuidadora, a veterinária que chorou na televisão, quando pegou o cachorrinho no colo. Que se dedicou, doou seu amor e seus melhores sentimentos, na recuperação desse bichinho. Assim como essa profissional, muitas pessoas aguardavam esse cachorrinho para preencher sua vida com companhia, alegria e amor. Para recompensá-lo pelo sofrimento que viveu.
Mais um clichê pra concluir: eu acredito e apóio a propaganda da Coca-Cola: Os Bons são Maioria.

Esse é Titã e sua nova dona, a veterinária Viviane Cristina.

Travessuras da Menina Má

Para conhecer um pouco de Mario Vargas Llosa, após vencer o Nobel de Literatura, comprei o livro que mais me interessou: Travessuras da menina má. Deixei guardado por um tempo, porque tenho esse hábito de comprar os livros e guardá-los para a leitura no melhor momento.
Acho incrível como certas leituras acabam caindo na minha mão em momentos tão oportunos. A história foi o pano de fundo das minhas pequenas férias de 15 dias do trabalho. O tema central é uma história de amor que acontece, mas não se consuma. Sou particularmente atraída por histórias de amor impossíveis. Tornam-se belas e eternamente melancólicas. Gosto de tê-las, guardadas numa parte de mim, e acreditar que possam existir amores assim. Ainda que literários.
O tema central é a história de amor entre Ricardito (o bom menino) e a menina má, que se conhecem na adolescência. Ricardo nutre pela menina má, uma paixão grandiosa e ardente, que supera e perdoa todas as travessuras e falsidades dessa amante egoísta e vaidosa. Enquanto os anos passam e esse casal se perde e se reencontra, acontece a revolução peruana e todo o cenário político que se desenrola naquele período.
Aprendi sobre revolução peruana, sobre a ditadura que se impôs após um golpe de estado e também sobre a força de uma verdadeira paixão. Com o passar dos anos, acabei ficando cética para amores como esse,  exposto nessas linhas tão deliciosas de ler. Acabei acreditando que a paixão morre, que o amor vai se transformando aos poucos em outros amores, igualmente bonitos mas bem diferentes. Mas a história acende em nós um misto de jovialidade e esperança, uma força arrebatadora e única. Quando percebi, estava correndo os olhos pelas linhas, desejando o momento do reencontro, ainda que permeado pelas perversidades dessa menina má, solitária e ardilosa. Dessa menina que também não crê nesse amor que não se acaba, mas ao contrário, se renova e se ascende a cada reencontro.
Adorei a leitura, leve e rica, permaneci  imersa e atolada nessa revolução, nesse amor, nessas noitadas, até a cabeça, curtindo essa história, essa leitura de férias...magnífica...
Recomendo: Travessuras da Menina Má
Mario Vargas Llosa