segunda-feira, 24 de setembro de 2012

E aí, tá dando certo?!


Segunda-feira, depois do expediente saí na intenção de comprar um vestido para ir trabalhar. Minhas roupas de verão são muito curtas e despojadas. Próprias para os finais de semana. Entrei na primeira loja e escolhi alguns vestidos para provar. Não sei o que diabos acontece com os vestidos que a cada primavera estão menores.
Entrei no provador , vesti o primeiro. Já logo de cara senti que o vestido não ia servir. Era um vestido para uma moça de uns sete quilos a menos. Mas eu, orgulhosa que sou, quis entrar no bendito. Para provar a mim mesma que, claro, o vestido ficaria um pouco justo mas certamente fecharia.
O desfecho da história é um tanto quanto óbvio. O vestido entrou. Mas não saía nunca mais. Puxei, enrolei, deslizei e nada do vestido sair. E quanto mais eu puxava, mais me desesperava, mais suada eu ficava, e mais o vestido grudava. Cíclico. Infernalmente cíclico. Sentei no provador. Estava exausta. Eu ria tanto de mim mesma naquela situação ridícula, desnecessária. E enquanto tudo isso acontecia, a vendedora, da porta do provador gritava o mantra das vendedoras de shopping: E aí, tá dando certo?
Como pode dar certo se entrei no provador com um vestido pra criança? Devia ter uma lei, ou um regulamento interno que proibisse as vendedoras de seguir com o cliente até o provador. Não há nada pior do que provar uma roupa pequena ou ridícula e ter do lado de fora uma vendedora com pique de coordenadora de excursão gritando:  Mostra pra gente como é que ficou! Isso quando elas mesmas não abrem a porta do seu provador para mentir, descaradamente, que a calça 38 está linda em você, que usa manequim 42.
Um regulamento como esse também deveria existir nos caixas dos supermercados, para nos proibir de levar mais do que um pacote de bolacha recheada. Um fiscal em cada caixa, contabilizando os quilos a mais para cada inofensivo pacotinho de bolacha. Eu compro o pacote de bolacha e depois fico a semana inteira lutando comigo mesma para resistir. Estranho, não?!
Não há nada pior do que fazer dieta. E quando você começa a dieta, paira sobre você a maldição das festas. Se você decidir fazer dieta, pode apostar que receberá na mesma semana uma infinidade de convites para festas, Happy hours, cervejinha com petiscos, festinhas infantis, chás de bebês. É incrível. E quando, perseverante, você vai a festa, existe uma dúzia de pessoas que passarão o evento inteirinho atrás de você,te tentando. “Só um brigadeiro não faz mal’, “só uma esfiha não tem problema”, “Só um pedacinho de bolo”, “ Você não comeu nada”. Se você for comer a esfiha, o brigadeiro e o pedacinho de bolo todo seu esforço da semana inteira cai por terra. É....é difícil.
Me matriculei na academia. Começo a aula sempre disposta. Depois de dez minutos já quero alongar e ir tomar banho. Já é o suficiente para mim. Mas, persevero. Começa a dificultar quando minhas pernas e braços começam a pesar cem quilos cada um. Que esforço tenho que fazer para erguê-los....é realmente incrível como o corpo da gente pode ficar tão pesado em alguns minutos.
Quando toca o despertador, bem cedinho, me lembrando que é hora de me exercitar, morro de preguiça. Penso em desistir. Em dormir mais uma hora e meia. Na minha cama quentinha, aconchegante e macia. Mas, surge na minha mente o mantra: E aí, tá dando certo? Imediatamente me levanto e vou tomar banho.

*Imagens de Arthur de Pins

Colóquio Internacional sobre o amor


Em um sábado a noite fui a um espaço bem aconchegante prestigiar a peça de uma grande amiga. Tudo o que eu sabia sobre a peça era que se tratava sobre o amor. Imaginei muitas histórias, cenas, citações, mas qual não foi minha surpresa quando, logo no início, na fila da bilheteria dois simpáticos atores me abordaram perguntando seu eu achava ser possível amar outra pessoa sem antes me amar. Respondi que não. Amar o outro para mim é uma extensão do amor que temos por nós mesmos. Comprei o ingresso e entrei. Curiosa, confesso.
A princípio, percebi que se tratava mesmo de um simpósio, com direito a intervalo e café preto com bolachas. Mas, dentro de alguns instantes eu estaria mergulhada em diversas situações  que me levariam a me aprofundar no meu universo particular. As esquetes eram caricatas, sensíveis, ridículas, histéricas. E todas, sem exceção, extremamente profundas. O grupo apresenta muito entrosamento em cena, qualidade, verdade. Transparecem o cuidado com a arte, com o gesto, com a palavra.
Ri muito. Dos personagens, das situações ridículas interpretadas por eles. Ri de mim mesma. Vivenciei minha própria solidão, minha carência, minhas feridas. Minhas mágoas, a obscuridade da minha alma. Chorei. Me senti desconfortável. Quase pude tocar os meus sentimentos. Dancei. Participei de um baile, uma festa, um encontro. A dois. A sós. E a citação sobre o amor, aquela que imaginei de qual autor seria, na verdade era minha. Eram citações de toda a plateia. Profundas. Intensas. Legítimas. Os personagens foram meus espelhos. E minha boca falava por meio deles. Em cena estava o meu coração. A minha angústia. O meu desejo. A minha rejeição. A minha dor.
No fim da peça meus sentimentos todos se acotovelavam dentro de mim. Euforia, emoção, alegria, afeto. E profunda gratidão por aquele grupo, pela entrega em cena, pelo zelo com a plateia. Se pudesse definir o espetáculo em uma palavra ela seria: Visceral.
Finalizo com um trecho do grande poeta Oswaldo Montenegro

“Que a arte nos aponte uma resposta
 Mesmo que ela não saiba
 E que ninguém a tente complicar
 Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer;
 Porque metade de mim é platéia
 E a outra metade é canção...
 E que a minha loucura seja perdoada 

 Porque metade de mim é amor
 E a outra metade... também.”

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Ô de casa!


Existem pessoas que, onde quer que estejamos, nos fazem sentir em casa. Abrem as portas e janelas do seu coração para acolher nossa alma, por vezes sedenta de amparo, consolo, sorriso ou apenas companhia. Sabem ouvir. Com atenção e carinho. E não com aquele desespero  dos egoístas que desejam completar a nossa frase com as ideias deles, é claro...

A qualquer hora, da noite ou do dia, quando batemos palmas no portão “Ô de casa”, sempre nos recebem, com um café feito na hora, uma fatia de bolo, ou um pedaço de pizza de ontem. Não importa. Sempre estamos em casa. Naturalmente acolhidos. Com aquela simplicidade nata dos amigos de verdade.
Acolhem as nossas descobertas. Nossas dúvidas. Nossos fracassos. Acolhem nossa essência e nos momentos de desespero, nos fazem lembrar dela. Porque nos conhecem. Nos aceitam. Nos amam.

Como descrever a sensação de estar em casa? A você? Poder sentar no chão. Andar descalça. Por o short do pijama, cozinhar sem avental. Requentar a janta de ontem, abrir a geladeira, mudar de canal, tomar um banho demorado. Estar entre amigos é estar em casa. Na nossa casa , no interior dos nossos anseios. Dos nossos mais secretos segredos. Tão bem guardados nesse silêncio amigo. Fraterno. Amoroso. Divino.