sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Intocáveis


Assisti um filme maravilhoso essa noite e recomendo a todos que queiram muita sensibilidade e boas gargalhadas. Baseado numa historia real, o filme conta a história de Philip, um homem muito rico, de meia idade que se acidenta gravemente e fica tetraplégico. Ele procura por um cuidador. Driss é o candidato politicamente incorreto: não tem capacitação técnica, vive na periferia, é ex presidiário. Mas cativa Philip exatamente por não ter por ele um sentimento de piedade.
Os dois vivem situações inusitadas e muito engraçadas. Tornam-se amigos e passam a dividir suas deficiências que ultrapassam a barreira das limitações físicas. E me fez refletir que todos somos deficientes, na verdade. De afeto, de estrutura, de aventura, de felicidade. Todos dependemos uns dos outros para nos sentirmos completos e plenos.
Apesar do tema central ser um drama, os desdobramentos desse filme trazem um universo de emoções . A amizade que os dois nutrem um pelo outro é legítima e desprovida de qualquer interesse. É um ato de aceitação total de suas condições, suas limitações, seus defeitos. Sem cobrança, sem a acidez que nos torna tão solitários muitas vezes, porque não conseguimos aceitar plenamente o outro tal como é. Quando o que buscamos na vida é justamente sermos aceitos por inteiro. Por completo.
A ausência de piedade entre eles me comoveu muito, pois foi justamente ela que permitiu aos dois se ajudarem, partilharem a vida. Sinto muita piedade dos outros. E hoje me questionei o quanto isso é saudável e onde esse sentimento vai me levar. Pensei nas inúmeras situações em que sentimos pena de nós mesmos. Ficamos presos a situações, relacionamentos, empregos infelizes porque sentimos pena de nós mesmos. O quão permissivos nos tornamos por sentirmos dó.
Claro que devemos sentir compaixão por nossos amigos e até por desconhecidos que vivenciam experiências dolorosas. Compaixão não é piedade. Piedade não é solidariedade. É um sentimento fraco que nos oprime ao invés de nos impulsionar para a prática do bem, da amizade e do amor.

Você que lê esse meu post, assista esse filme! Vale muito a pena. Ele foi pré selecionado para  concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar de 2013. Super recomendo!!! Segue o trailler...







http://youtu.be/FpwuGtn8aGA

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pulmão de Aço


Poucas vezes um livro me tocou tanto como esse.  Pulmão de aço foi um dos primeiros aparelhos que permitiam que uma pessoa respirasse, mesmo após ter perdido o controle muscular ou diafragmático. Foi criado na década de 20 por Philip Drinker nos Estados Unidos. A máquina, quando ligada, exerce uma pressão no tórax, forçando a entrada de ar. Esse aparelho foi o precursor das UTIs e permitiu o tratamento de muitas pessoas. Eliana Zagui foi uma delas.
Eliana foi acometida por poliomielite quando era bem pequena e, quando conseguiu chegar ao Hospital das clínicas, a paralisia já havia acometido praticamente todo o seu corpo, restando apenas o movimento da cabeça. Respirou com a ajuda de aparelhos e a expectativa de vida dela era muito baixa.
O livro narra sua história e a de muitas crianças comprometidas pela pólio, internadas no Hospital das Clínicas. Eliana passou toda a sua infância e adolescência no hospital. Foi alfabetizada, aprendeu a movimentar objetos e a usar o computador com o auxílio de uma espátula movida por sua boca. Aprendeu a pintar lindos quadros.
O livro é tão rico de ensinamentos que sinto dificuldade para abordar toda a emoção que senti ao lê-lo. Perdi a conta de quantas vezes o fechei e chorei profundamente. Não só porque fui tocada com sua história mas também por ficar extremamente comovida com sua grandeza de alma, com sua perseverança e principalmente com seu amor a vida.
Minha vontade é contar aqui todas as passagens do livro que mais me emocionaram, mas não seria correto com as pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de ler. Até mesmo porque espero, com esse post que mais pessoas leiam esse livro e ganhem o mesmo presente que eu: a valorização da vida, da simplicidade do movimento, do afeto nas relações.
Apesar de tudo esse não é um livro triste. É um livro de superação, fé e coragem de uma criança que se tornou uma mulher incrivelmente forte e capaz de vencer as adversidades. O que me tocou infinitamente nesse livro é perceber quantas pessoas de bem existem. Pessoas interessadas no outro, no auxílio despretensioso, na bondade. Ainda que as visitas da família de Eliana tenham ficado escassas, pude observar quantos amigos e amigas ela adquiriu durante toda essa vida num leito de hospital. Amigos que a levaram para ver o mar, para participar de um baile de formatura, de uma festa de natal em família. Por amizade. Por amor.
Quero expressar aqui minha mais profunda gratidão pela autora desse livro e por, de alguma forma esse livro ter chegado em minhas mãos. O quanto aprendi com essas linhas, o quanto reforçou minha postura de valorizar aquilo que temos de mais simples na vida que é o movimento. O quanto reforçou minha crença de que há uma razão oculta em todas as coisas e que algo maior rege todo esse universo que carregamos dentro de nós.
Esse livro me falou de amor em sua forma mais pura. O amor pela vida, pela esperança, pela fé no ser humano e naquilo que podemos realizar, dentro do nosso coração. Vou finalizar com a frase que mais me tocou durante toda essa leitura: “Se fisicamente não posso andar, em minha mente sou capaz de voar sem limites.”